domingo, 25 de novembro de 2012

Crónica 18

Autor – Qual a tua opinião quanto ao que afirmou o Papa sobre o preservativo?
Profeta – Como é que é possível usar «Papa» e «preservativo» na mesma frase? Foda-se.
A. – Não estou certo de que essa seja a linguagem mais apropriada, tendo em conta os nossos potenciais leitores...
P. – A mim ninguém me paga para ser liso.
A. – Lido, queres tu dizer.
P. – Não. Liso.
A. – Todavia, se as pessoas abdicam de algum do seu tempo para me ler – para nos ler, digo –, poderias com certeza ser mais educado e...
P. – Estou a borrifar-me para isso!
A. – Ok. Mas qual a tua opinião?
P. – Sobre o quê?
A. – Sobre o que disse o Papa.
P. – Que disse ele?
A. – Disse que, e cito, «pode haver casos individuais justificados» para o uso do preservativo.
P. – Quando foi isso?
A. – Há dois anos, sensivelmente.
P. – E por que é que te lembraste disso hoje? Espera, já não tinhas publicado isto antes num blogue? Agora deste em reciclar o teu próprio lixo?
A. – ?
P. – !
A. – Que considerações se te suscitam, afinal?
P. – Para mim era pegar nessa padralhada toda e...
A. – Estou a ver que hoje se afigura impossível dialogar contigo.
P. – Passa-me daí o entrecosto para pôr aqui na brasa.
A. – ...
P. – Acho bem.
A. – Achas bem o quê?
P. – O que disse o Papa.
A. – ?
P. – Exacto, my looser friend.
A. – Onde é que aprendeste inglês?
P. – ...
A. – Achas bem? Ou consideras tardio? Ou entendes que peca por defeito?
P. – Sim. Não. Não. Ninguém pede a um castanheiro para dar azeitonas.
A. – Não alcancei o entendimento dessa tua sentença.
P. – Não alcançaste porque és burro.
A. – ?
P. – …
A. – Sendo tu um contestatário de esquerda, eu consideraria que o teu alvitre caminharia no sentido de entender, como muitos, que a posição do Vaticano relativamente ao preservativo – e tendo em conta a disseminação do HIV em África, especialmente – era nada menos do que criminosa.
P. – Estou a ficar velho.
A. – ...
P. – E desde que te aturo que envelheço mais.
A. – Mas como assim?
P. – És um chato do caraças.
A. – Não! Como é que secundas a afirmação de Bento XVI?
P. – É lógica a estratégia da Igreja: abstinência; depois fidelidade; e no fim preservativo.
A. – Esta é a primeira vez que te ouço mencionar a palavra «estratégia» sem intentos jocosos.
P. – Lê o texto de novo.
A. – Não entendi.
P. – Esquece.
A. – Afinal, não achas desfasado da realidade?
P. – Não.
A. – ...
P. – Dar sempre azo aos desejos carnais, ser um escravo, acima de tudo, dos desejos, faz de uma pessoa poalha irrisória dispersa pelo vento.
A. – Isso é, com efeito, pouco revolucionário. E de uma qualidade poética duvidosa.
P. – Estás enganado, loser friend. Isso, hoje, é o que há de mais revolucionário. E mais uma dessas, não sei quê, sobre qualidade duvidosa - e rebento-te todo.

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