domingo, 11 de novembro de 2012

Crónica 14

não ajuda nada dizer que é dor íngreme – esta que sinto – menos ainda perfurá-la – torpe – no papel – o carvão é o vestígio – queimadas que são as conversas dolosas e túmidas das inconsequências – não tenho os significados à ilharga – a ansiedade talha-me – tão depressa existe no horizonte térreo das minhas lentes – como nos declives centrípetos das minhas consciências – há que decifrar os ruídos – vindos não sei de que naufrágio à boca de cena – vindos – não sei – de que séculos – ruídos que somente de existir rebentam não anunciados – soterram os minerais das magnificências –as paragens bruscas do coração – tenho medo dos instrumentos berrantes que me prendem – o metal enferrujado – as coisas apressadas com tons fuscos – e pressa é só o que tenho – tanto que a luz não desenha os contornos dos quartos – depressa apercebo-me de mim – inconstante – primeiro sincero – depois salamurdo – surdo – mudo – espero enfim as grandes mudanças – bordadas com um novelo de linho – em pano de fundo por remendar – eternamente por remendar – na vertigem dos tormentos – probos e réprobos abismos por coser
sinto o fértil cultivo – a raiz fecunda – de tudo

é escusado afirmar que é um tempo simples – este – em que vivo – mais ainda marchetá-lo – luminoso – nos píxeis que me turvam os olhos – das conversas dolosas e entumecidas das asserções lapidares permanecem – apenas – as cinzas – tenho hoje todos os significados necessários a tiracolo – a ansiedade é atalhada por mais um cigarro – e uma agenda vazia – tão depressa sou no horizonte delineado das lentes – como nos caminhos ascendentes da minha consciência – sei decifrar os ruídos – vindos de barcos emersos dos naufrágios à vista de terra – vindos do meu século atrevido – melodias escorreitas que eclodem anunciadas com peso e medida – uma pedra polida de magnanimidade de régua e esquadro – do desalento à falta de talento – os ritmos binários da alma – manejo com zelo os instrumentos com que aprisiono a realidade – os polímeros obsoletos – as coisas apressadas em tons de branco – e pressa é ainda o que tenho – tanto – que já a noite não me apaga os contornos dos quartos – apercebo-me sempre de mim – sincero – depois ainda mais sincero – estancado – não espero mudanças – bordo o transitório em pano de fundo perfeito – perfeito para a eternidade – afinal tanto se me dá – como tanto se me deu – excepções são dedos de uma mão decepada
sinto o súbito irromper – a solar emergência – da esterilidade

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